Original: Only God Forgives
Direção: Nicolas Winding Refn
Roteiro: Nicolas Winding Refn
Produção: Lene Børglum, Sidonie Dumas, Vincent Maraval
Fotografia: Larry Smith
Trilha Sonora: Cliff Martinez
Gênero: Drama
Origem: França/Tailandia
Duração: 90 minutos
A violência física e psicológica continua fazendo jus à obra de Nicolas Winding Refn. Obscuro, inquietante e hipnótico é o que pode definir Só Deus Perdoa.
O longa é mais uma parceria do diretor com o ator Ryan Gosling, depois do ovacionado Drive. Mas dessa vez não conseguiu o mesmo sucesso. O filme foi vaiado em Cannes e tem recebido críticas extremamente negativas.
Refn nos entrega um filme difícil de digerir, que apela, acima de tudo, a uma forte reflexão sobre o conceito de justiça. Bem mais complexo do que aparenta, Só Deus Perdoa é uma experiência sensorial e sentimental.
A história nos traz Julian, que está à frente de um clube de boxe tailandês, fachada para um negócio de tráfico de droga. Mas quando o seu irmão Billy é assassinado e a sua mãe, Crystal chega a cidade para reclamar vingança, tudo muda. No seu caminho está Chang, um misterioso policial, idolatrado pelos seus companheiros.
O roteiro, com ritmo lento e alguns vazios por preencher, oferece sangue e violência ao longo dos seus 90 minutos. Poucas falas (aliás, sabe-se que os diálogos são secundários para Refn) ultraviolência e cores fortes – vermelhos, amarelos e azuis estão presentes na maior parte do filme.
Se por um lado temos essa violência exagerada de que tanto se fala, por outro temos a possível justificativa para que ela aconteça. Uma das lições a tirar do filme é a de que todos os atos têm consequências e isso já é apontado através do título.
Mas é esteticamente que Só Deus Perdoa atinge a excelência. A fotografia de Larry Smith nos entrega planos geometricamente estudados e iluminados de forma brilhante. Em união perfeita com a componente visual está a trilha sonora de Cliff Martinez. As cenas mais violentas são cruas, optando pela ausência de trilha, deixando o espectador apenas com o som do grito.
O elenco tem um desempenho irrepreensível. Ryan Gosling não descuida do personagem e, mesmo sem falar muito, consegue transmitir o essencial através da sua falta de expressão, com seu olhar apático e distante. O protagonista revela uma submissão perante a mãe e uma sexualidade complicada. Deslumbrante está Kristin Scott Thomas, com uma interpretação magistral da maliciosa mãe, Crystal. A atriz nos prova todo seu talento até na pele da mais fria e asquerosa mulher. Mas o grande destaque vai para o ator tailandês Vithaya Pansringarm na pele do policial Chang, com sua brutalidade e ar sereno.
Só Deus Perdoa possui uma beleza visual estonteante, repleto de uma violência estética que poucos nos proporcionam. É uma obra extrema: ou você ama ou você odeia.