
Estou entre, quando Deus soprou em mim , eu agarrei-me ao sopro e nele fiquei, encantado. Eu sou o cordão umbilical entre a matéria e a essência. Eu sou o instantepré. Eu sou a intenção. O cinza e o vermelho mesclado, onde a aurora e o crepúsculo se confundem.
Eu sou a premonição do vir a ser. Eu sou o projeto do arquiteto na planta. Eu sou o clarão que precede o relâmpago. A nascente cristalina de um rio. Mas também sou a vibração do som. A sombra de mim mesmo. O odor deixado por quem passou. A estiagem depois da tempestade. O leito ressecado do que um dia foi abundante. O elo invisível, a aura circundante de um fragmento de som a outro. Vários fragmentos. O nascer e o morrer, a continuidade, o durante.
E sendo assim é que sou novo. Nessa dualidade e desordem. Mesmo no limbo. A possibilidade é a minha única chance, a reconstrução é o que me faz ser a raiz rompendo a semente em busca da seiva. Ser o broto. Ser o tronco que vai escorar o outro no sempre. Ser a folha. O fruto. O alimento. Hoje eu sou o adubo do meu fio, a ponte. O que escolherá entre sucumbir na lama ou fundir-se à semente, reiniciando o ciclo constante. E que Deus se apiede de mim e me socorra na pintura dessa imagem. Inspiração para as cores, é disso que eu preciso.
Também dizer adeus ao que eu posso e penso mais saber, limpar-me e deixar-me livre para que me seja enviada a inspiração do mais divino de mim. E me preencha de mim. A sabedoria ao buscar o pincel mais fino, a tela mais suave e clara. A resistência à sufocação das tintas. A moldura mais perfeita. A adequação ao expor a consistência de um fio retocado.Pela sábias mãos da minha vida. Passos de um esboço quase perfeito.